Vou com Eles
Vou com eles, até o topo da escada rolante, que os conduzirá ao estacionamento daquele shopping onde almoçamos. Foi um almoço alegre, de variadas conversas, num restaurante bonito e agradável, onde ficamos por algumas, embora para mim sempre poucas, horas. Compartilhamos os últimos acontecimentos de nossas vidas, coisas que nos alegraram ou não, convívios com pessoas que têm nos enriquecido, sonhos, projetos. Falamos tão levemente e de forma tão espontânea e sincera. Eles estavam ainda mais bonitos. Olhava para eles, há quase cinco anos casados e nós com nossos trinta e três anos de união, pensava nas histórias que escrevemos, e nas quatro histórias de vida, sentadas em torno daquela mesa.
Dali a cerca de cinco horas, eles estariam num vôo de volta para casa, naquela cidade grande, onde lutam para se tornar quem desejam ser. Conheço bem a luta diária dos dois, sei de suas dificuldades, da disciplina que abraçam. Quando lá estou vejo livros marcados pelo estudo, computadores trabalhando, minha nora saindo para plantões, meu filho visitando processos. Sem querer, começo a pensar se ter incentivado tanto crescimento, independência e autonomia, desde a infância, foi realmente o melhor para os meus filhos. Eu os vi longe de mim, durante tantos anos, passaram por dificuldades inerentes a uma vida adulta, precocemente. Sei que se tornaram fortes, corajosos, determinados. Mas, nem sempre, nosso convívio foi diário. Perdemos alguns olhares, algumas lágrimas não foram compartilhadas, em algumas vitórias não pude estar presente. Construímos bem nossas histórias, mesmo assim.
Vou com eles até o topo da escada rolante. Abraço-os novamente, beijo de novo, aliso o rosto ou o cabelo de cada um. Brinco que se ganhar na megasena, estarei de helicóptero almoçando com eles, na segunda quinta-feira de agosto, quando acontece seu aniversário. Minha nora ri, e diz que construirá um heliponto a tempo. Vejo-os subindo, olhando para trás e acenando para mim, e me dedicando os seus mais belos sorrisos. Meu filho sabe que meus olhos da alma marejam nestas horas. Ele sempre sabe quando minha alma lacrimeja e eu sei que ele sabe porque me olha de um jeito diferente, ainda mais carinhoso que o seu jeito já habitual de ser. Aproveito que meu marido se ausentou para pagar o estacionamento e deixo as lágrimas escorrerem pelo rosto, sem dificuldade. Choro a alegria de tê-los e a tristeza de não tê-los. Sofro a saudade que toda mãe amorosa sofre. Sinto ao mesmo tempo a amargura da ida e a doçura da volta, que Deus queira, que seja em breve.
Vou com eles e eles ficam comigo, guardadinhos em meu coração.