Enfim…

Nesta semana, uma pessoa me confessou que por correr de problemas, corre das pessoas. Consigo compreendê-la no sentido de entender que diante de suas próprias dificuldades não se sente em condições de abraçar os problemas dos outros, as divergências de opiniões, as necessidades de ajuda, as possíveis discussões e quem sabe até brigas advindas de relacionamentos mais profundos. Relacionamentos não superficiais exigem de nós mais compromisso, dedicação de tempo, zelo com a pessoa amada, responsabilidade na demonstração do afeto. Enfim, relacionar bem é trabalhoso. Porém, viver bem também é. A vida em si é trabalhosa, se desejamos dela o que ela realmente pode nos oferecer. Viver bem exige cuidado contínuo, observação primorosa, acerto nas escolhas, disposição e entusiasmo.
Fico a pensar se correr das pessoas para correr de problemas não seria na verdade estar na contramão do que nos foi proposto com a vinda de Jesus ao mundo. Instalados no nosso reino de uma pessoa só, isolados, procurando os outros somente quando a companhia nos apetece e favorece seria a prova maior de nossa entrega ao egoísmo em sua pura e dura realidade. Vivendo com as pernas para cima, confortavelmente instalados em nossa pressuposta segurança emocional desfrutamos de uma tranquilidade absurda. São os outros que nos instigam, nos questionam, que revolvem nossos assentados pensamentos, que mexem nos nossos organizados valores, que exigem de nós atitudes que nossa preguiça não gostaria de assumir. Enfim, os outros reviram o que somos, mostram o nosso avesso, ligam o sinal de alerta mostrando que afetos não são, o tempo todo, dóceis nem organizados. São os outros que nos mostram que às vezes temos repetidos comportamentos por nos termos habituados a ser quem somos. E não podemos estacionar no que já somos. É contínua a caminhada rumo ao que seremos. E porque fugimos? Fugimos porque sabemos que relacionamentos sinceros exigem de nós responsabilidade no falar, no agir, no ser. Fugimos porque as contrariedades nos desgastam, os questionamentos nos inquietam, o olhar do outro sobre nós e seus anseios em relação à nossa pessoa nos tiram do nosso conforto. Buscamos a falsa serenidade, pois a verdadeira não repousa sobre a indisposição e a preguiça. Quando não estamos mais em condição de ajudar alguém, então, precisamos parar e compreender que o afeto ainda é grandioso, imprevisível, facilitador e nos conduzirá, enfim, à plenitude.