E por falar do olhar
Quanto vai durar o brilho de seus olhos?
Não daquele brilho estampado também em seu rosto que se nota ao descobrir o outro e sim aquele brilho inocente e confiado da infância.
Aquele antes da primeira decepção, do primeiro sentir enganado, usado, ignorado. Antes de conhecer a não garantia de retorno de uma boa intenção, ação, paixão.
É coisa de gigante sobreviver brilhando diante dos primeiros e seguidos dardos envenenados encobertos de incertezas e más relações, ir-se acostumando a não sentir-se bem, a sentir-se culpado e dando por normal a falta do encantamento perdido que conhecia.
Pode ser que volte a recuperar entre uma e outra relação quando alguém lhe faça recuperar esta doçura e inocência perdida, alguém capaz de notar esta criança dentro de infinitas capas protetoras, algo raro, pois na maioria das vezes apenas é outra pessoa má capaz de usar apenas sua boa-fé.
Pouco vale o contrato de manter este encantamento pela vida, pois com o tempo, se não existe um consciente propósito, o brilho vai pouco a pouco se apagando. Dura apenas o tempo de uma ilusão em ver o outro diferente dos outros, de ser visto diferente a outros.
Alguns raros gigantes, contra tudo e todos conseguem manter este brilho enquanto a maioria vai perdendo es-te olhar, vão morrendo em vida, esperando encontrar alguém com esta energia que perderam. São incapazes de reconhecer em si mesmos uma energia igual buscada no outro.
Por preguiça, costume, genética, falta de conhecimento ou qualquer outro motivo passam a vida buscando outra metade que não existe, porque assumir-se como completo e inteiro custa, necessita coragem para estar diante do espelho sozinho. São demasiados demônios!
A cada qual lhe toca os seus e ninguém consegue lutar em duas frentes, com os seus e com os do outro, assim que a única arma existente esquecida ou desconhecida é a inocência encoberta pela compassividade, consigo mesmo e com o outro.
Primeiro consigo mesmo, com uma plena aceitação capaz de transformar o constante enfado em sorriso, em uma gostosa gargalhada, daquelas que era capaz de dar antes de… .