A dor no peito
Representa uma das queixas mais frequentes nos consultórios de cardiologistas e dos atendimentos em pronto socorro, unidades de urgência e quase 40% de causas de internação hospitalar.
Destes internados a grande maioria ou 75% recebem alta com diagnóstico de doença extra cardíaca ou não cardíaca, mas 25% recebem o diagnóstico de angina ou isquemia e infarto ou ataque cardíaco.
O coração ao contrário do que muitos pensam, quando doente pode sim apresentar dor e as dores do coração que podem levar ao adoecimento ou morte. São duas, a da angina de peito , quando a artéria coronária, que envolve o coração está obstruída mas alguma quantidade de sangue ainda consegue passar pelo vaso ou artéria.
A outra dor no peito, que significa uma emergência é o infarto do miocárdio ou ataque cardíaco e nesta situação a artéria está cem por cento obstruída e o músculo cardíaco, que recebe a nutrição pela artéria fica comprometido completamente sem oxigênio, glicose e outros elementos com destruição total e morte ou necrose.
Na verdade, é extremamente fácil entender o funcionamento do coração, uma vez que ele, o coração funciona com dois únicos movimentos, a contração ou sístole e relaxamento ou diástole, na sístole os ventrículos ou coração do coração jogam o sangue nos pulmões e na circulação como um todo e na diástole eles, os ventrículos, recebem o sangue, mas para que tudo isso aconteça há necessidade das artérias coronárias direita e esquerda, verdadeiros canos ou tubos que se originam da artéria aorta e envolvem o coração como uma coroa, daí o nome de coronárias, estejam desobstruídos com ampla passagem de sangue.
Como diferenciar a dor da angina de peito, ou isquemia, quando a lesão ou obstrução é inferior a cem por cento e existe passagem de sangue pela artéria do ataque cardíaco ou infarto do miocárdio, quando a artéria está completamente obstruída e os nutrientes, oxigênio, glicose entre outros é interrompida, com isso o músculo cardíaco que recebe a nutrição das artérias coronárias entra em sofrimento culminando com sua morte ou necrose.
Se a obstrução por placa de gordura ou ateroma acomete o início da artéria, grande parte do músculo nutrido por ela entra em sofrimento e a pessoa pode inclusive falecer ou o músculo enfraquecer levando a arritmias e dilatação do coração.
A dor da angina de peito, onde a obstrução da artéria é inferior a 100 por cento e existe alguma passagem de sangue tem algumas características importantes como sua duração que é inferior a dez minutos, a dor aparece quando de esforços físicos, emoções, após refeições copiosas, stress e melhora com o repouso ou o uso de medicamentos que dilatam as artérias como os nitratos.
A dor do ataque cardíaco ou infarto do miocárdio, uma urgência ou emergência tem duração de trinta minutos em média, não tem relação com esforço físico e só melhora com analgésicos potentes e em ambiente hospitalar após tratamento adequado.
Tanto a dor da angina quanto a do infarto aparecem no lado esquerdo do peito, podendo irradiar para o braço esquerdo, habitualmente, mandíbula ou costas ou até mesmo para o abdome, região do estômago, daí a importância do que nós médicos chamamos de diagnóstico diferencial, uma vez que estamos diante da caixa torácica e esta dor no peito pode estar relacionada não com doenças do coração mas moléstias do pulmão, pleura, estômago, esôfago, coluna cervical ou torácica, musculatura ou até mesmo lesões de pele como o herpes-zóster.
Fica a recomendação de que, dores no peito exige um bom atendimento clinico, a realização do eletrocardiograma, exames de sangue, lembrando que não só o coração mas inúmeras outras doenças podem estar relacionadas a este sintoma, mas precisamos descartar ou diferenciar ou mesmo excluir a presença da angina de peito e do infarto do miocárdio, o temido ataque cardíaco, responsável pela maior parte de óbitos em todo o mundo.
A prevenção é o melhor remédio através de uma consulta no mínimo anual com o médico de sua confiança e a realização de exames complementares entre eles a dosagem do colesterol e frações, glicemia e a mudança do estilo de vida com a adoção de hábitos saudáveis como dieta rica em verduras, frutas, carnes magras; atividade física permanente de cento e cinquenta minutos semanais; abolição do fumo e do álcool; combate ao stress, obesidade, sobrepeso; controle rigoroso da pressão arterial e da glicemia, estimular a espiritualidade e o bom convívio social.
Na próxima edição conversaremos sobre as arritmias cardíacas, até lá.
Referências:
Nicolau e at. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio. 2021
Kalil Filho R, Hajjar LA, Neto SC. Cardiologia Diagnóstica Prática Hospital Sírio Libanês. Editora Manole. Barueri SP. 2018.